Ser professor tem suas vantagens e coloco como a principal a possibilidade de, diante de um tema, enxergar a visão de mundo dos outros. Sou um homem de outro milênio, de outras décadas e já assisti as transformações do mundo e principalmente de mim mesmo. Apenas a necessidade de se ter um herói parece permanecer.
Não importa o tempo e nem a localização, o herói povoa o imaginário do ser humano em algum momento da vida. Meu primeiro grande herói foi meu avô. Sr. Miguel era caçador, tinha uma barbona branca e uma cara de bravo. Foi quem me ensinou a pescar, quem me levava ao Mineirão e quem ocupou uma lacuna deixada pela morte prematura de meu pai. Porém ela também se foi e em meus 10 anos fui encontrar outro herói, agora literário, Michel Ardan, protagonista da obra de Júlio Verne "Da Terra à Lua". Mas eu era menino...
Em sala de aula a resposta parece não conseguir sair, quando pergunto "Quem é o seu herói". Uma análise rápida nos leva a uma crise de valores. Em um mundo de coisas efêmeras o herói sucumbiu à inconstância de virtudes valorizadas e rejeitadas. Um rapaz que luta para defender um mendigo aparece na TV em uma cama de hospital, se recuperando, por cerca de dois minutos e falam de ato heroico, porém logo após mostram rapazes e moças deitados à beira da piscina falando besterias e também são chamados de heróis. Não há lógica que ajude.
O conceito se perdeu, mas meus olhos de flâneur ainda enxergam as grandes façanhas de pequenos heróis desconhecidos. Empurrando carrinhos de entulho, vendendo pipoca, lutando contra o sono para aprender aquela matéria, gastando seu corpo, sua mente e seu espírito em suas epopeias diárias.
Meu reality show eu assisto pela janela do ônibus, o paradão é diário, onde não existe escolha de líder ou anjo para ajudar, e cada herói, anônimo e exaurido, luta para sobreviver.
Agora, aproveite, dê uma espiadinha e tente me responder:
"Que tipo de herói é você?"
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