Uma vez em um livro, do magnífico Paulo Barreto, conhecido como joão do Rio, encantei-me pela ideia de um flâneur passear pelas ruas da cidade e enxergar(não vê) todas as coisas, valorizando o detalhe mais vão.
O flâneur não está preso a rotina exaustiva do cotidiano, ele simplesmente flana... Ele se afasta do objeto para melhor observá-lo. Ele dialoga com a alma de tudo e de todos. Este estado de alheamento libertava a sua própria alma.
Esse distanciamento é capaz de conduzir a um estado de leveza tão grande que nos blinda contra a má vontade alheia, fazendo nosso olhar e nossos outros sentidos sintonizarem em coisas elevadas. Em vez de testas franzidas, passamos a observar sorrisos sinceros; no lugar de maldizer, escutamos gentilezas e agradecimentos. Se antes era um tapa, agora é um afago; e o que era odor, agora é o perfume da tranquilidade de que seu ego está contido e que ninguém é capaz de fazê-lo sair do seu caminho poeticamente descaminhado.
Como diz Manoel de Barro, "sou um apanhador de desperdícios" e minha alma flâneur caminha por rostos, sorrisos e olhares, essas são as minhas ruas e as palavras de meu texto. As roseiras têm espinhos, mas ficamos admirando a rosa; a chama queima, mas admiramos o seu brilho... Assim são as pessoas, de muito perto podemos nos ferir ou nos queimar, porém não é motivo para não reconhecermos suas qualidades ou seu brilho. Isso é libertação, o resto é mágoa, medo e prisão.
Minha alma flana, por ruas, por olhos e sorrisos; pois há muito perdeu o medo do fogo e dos espinhos...
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