sábado, 2 de junho de 2012

Prosa: Um sonho no apocalipse (2004)



O primeiro dos mensageiros chegou sem a menor discrição. Rasgou o céu, daquela noite de outubro, como um raio. Era uma estrela vacilante que passou do esplendor à obscuridade numa fração de segundo, trazendo consigo tantas lágrimas e a tristeza de mil viúvas. A cidade era banhada pela chuva.

O segundo mensageiro arrastou consigo folhas, galhos, árvores e telhados. Era forte, porém de uma leveza extraordinária. Ele era o bailarino do tormento. Seu nome, todos sabiam, era o vento.

O terceiro chegou sorrateiro. Não fez barulho e ninguém o viu. Tomou logo conta de todas as almas e posse de todos os segredos. E este se anunciou: - Eu sou o medo.

O mensageiro seguinte veio no rastro dos outros três. Trouxe o desespero e ao medo deu a sua mão. tomou conta de tudo, ele era a escuridão.

Então o senhor supremo avançou pelo céu invadindo cada prédio. Nada se podia ouvir, ele era o Tédio. Seus cavaleiros, aos pares, marchavam em trote de guerra, seguiam em comitiva na cavalgada final sobre a Terra.

Assistindo a tudo isso, um homem fumava na janela de seu edifício. Sem energia elétrica, olhando para a televisão apagada, ele dá uma boa tragada no cigarro, fecha a janela e sem poder fazer nada, volta a dormir.

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