segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Sobre o que eu sou


Gostaria saber me definir, talvez assim pouparia os problemas que causo ao buscar me definir no outro. Hoje sou mais como uma velha colcha de retalhos do que como apenas um homem. Tenho em mim retalhos formados por minhas lembranças, pois retalhado eu fui a cada dia, seja pelo esquecimento ou seja pela lembrança. Busco em cada desses retalhos o que julgo ter perdido no meio dessa colcha de minha vida. Encontros apenas pessoas e mais pessoas. Algumas formam grandes partes desta colcha que me engano às vezes ainda ser eu, mas percebo que mais a frente outros retalhos aparecem com outras lembranças e outras pessoas. A colcha pesa em minhas costas, mas não ouso retirar um retalho sequer, todos me são caros e dizem - na minha busca de uma melhor definição - o que sou. Pareço-me inconstante, por ter sido múltiplo, para quem se julga tão tímido na arte de costurar, ou seria conquistar? Nunca conquistei, o conquistado sempre fui eu, não o nego. O que carrego em enfim são bandeiras que hastearam em meu coração, território tão instável e perigoso, esse solo maldito que nada parece se enraizar. Porém, se não enraízam, porque enxergo agora flores em vez de retalhos? As lágrimas de minhas lembranças devem ter quebrado a dormência destes que não eram senão sementes. Meu coração renasce em um manto florido, harmonioso e perfumado que me transforma, que me forma e deforma. Talvez eu seja como esse - antes manto de retalho - agora jardim florido. Tenho minhas primaveras, meus verões, meus outonos e, infelizmente, meus invernos. Quisera eu deixar na memória de minha flores apenas as primaveras e os verões, porque os invernos carrego todos dentro de mim. Não sei o que eu sou... sou a alegria, sou a tristeza; sou a flor, sou o retalho; sou homem, sou o palhaço; sou a serenidade e sou a dor; às vezes eu me pergunto se não sou de todo o amor.

Cael Soares