terça-feira, 27 de agosto de 2019

POEMA: EU SONHO

Pouco sonho em vermelho
sonho vermelho, de Kandisky

Eu sonho
com os olhares perdidos da cidade
com o ressonar da moça na lotação
com a criança que desenha o mundo
com o menino brincando de avião

Eu sonho
com o aposentado na fila
com o doente que aguarda socorro
com o condenado na mira
com a noite que chove no morro

Eu sonho
com aquele que se sente fraco
com outro que se diz forte
com aquele que espera a vida
como que que encontra a morte.

Eu sonho!

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Cabra marcado para morrer

Autorretrato de Gustave Courbet



Tem dia que parece que tudo padeceu
Que o sol não quis brilhar para mim
E nem para os outros quis deixar o riso meu

Tem dia que a companhia é mais triste que a solidão
Que o céu fica nublado somente sobre mim
E nem a lua dos loucos me joga mais seu clarão

Tem dia que a cachaça desce ainda mais amarga
Para levar seu dia-a-dia de máquinas
Levando nas costas a desumanizadora carga.

Tem dia que a dor está obstinada a te vencer
E este dia, meus caros, este dia
É que o cabra escolhe para morrer.

Cael Soares

SURVIVE


When I wanted to walk
They cut my legs
So learn to fly
When I wanted to be free
They imprisoned me
So learn to sing

When I wanted to sing my freedom
They silence my song
So learn to dream

When they wanted to destroy my dream
They killed me
So I survived in my poetry


Cael Soares

A Picture, a world




Resultado de imagem para deficiente que teve sanfona roubada ganha novo instrumento
https://www.otempo.com.br/super-noticia/deficiente-que-teve-sanfona-roubada-ganha-novo-instrumento-1.1485438

I see a man
He is a sad man or his happiness doesn’t exist in this world
I see other men too
They don’t see the sad man
They don’t want to see
They are not interest

The modern world doesn’t have eyes for a sad man
But the sad man doesn’t see people too
He can’t see this world
The world that he sees is another
He is blind
He is playing music from his world
His fingers press the accordion’s key
Is that play the own soul in melody?

It’s a sad song of a sad man
The people be afraid to see their reflect on this man
He is the mirror of humanity
This is a sad world that doesn’t want to listen to this song,
It’s music

Cael Soares


terça-feira, 23 de maio de 2017

O trapezista



Queria ser na vida um equilibrista
Pender suavemente entre razão e emoção
Ter a estabilidade e confiança nos passo
E segurança da rede que me protege do chão

Mas o mundo assim me fez poeta
Vassalo do coração e irmão da tristeza
Sou o Corifeu desafinado da ode à alegria
E a nuvem que apaga as cores do arco-íris

Nada do que leio, ouço, bebo ou vejo
Dá-me a sensação de ser necessário
Sou aquele que está de malas prontas
Esperando o fim da ilusão para partir

Sou um trapezista de olhos vendados
Que se lança no ar em busca de outras mãos
Sabendo que outros trapézios estão vazios
E que não há redes que me proteja do chão

                                                           

Cael Soares

Tela: Waldemiro de Deus, "O trapezista"

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Intervalo doloroso


Intervalo doloroso

Sou vassalo dos meus sentimentos
A razão há muito se escravizou
Os dias me doem como açoites
As noites como longos enforcamentos
Não tenho mais o sabor das cores
O mundo é monocromático em mim
Uma nuvem pousou na minha esperança
E meus sonhos nunca mais puderam voar
Estou na vida como um náufrago em mar aberto
As desilusões são ondas que arrebentam sobre mim
A fé foi uma boia que rapidamente se esvaziou
Os meus erros são uma âncora presa aos meus pés
A felicidade é um farol que desaparece no horizonte
Sei que de sua luz não é feito o meu caminho
Sou daqueles, que por cansaço, partem para escuridão
Sabendo que um dia todos serão esquecidos.
Cael Soares

Tela: "Tempestade", do pintor romântico britânico Wiliam Turner.

Se minha alma fosse uma pintura


Se minha alma fosse uma pintura
Seus traços seriam feitos por Gericault
Não tem o aprumo das formas de Ticiano
Nunca fui muito bom em equilíbrio e razão.

Minha alma foi um processo longo
Retorcimento constante de emoção
Deformação friamente construída
E a obscuridade de quem nasceu hermético.

O meu sofrer tem o silêncio de árvore
Que, os seus galhos, zéfiro esqueceu de soprar
Tronco marcado por inúmeras promessas de amor
E copa muito distante para poder alcançar.

Se a vida foi sempre outonos e invernos em mim
Se minhas folhas verdes perderam a cor é caíram
O meu último ato é o sacrifício de devolver à terra
Tudo o que inutilmente investiu em mim.
Cael Soares

Tela: "Um Náufrago", de Gericault.