terça-feira, 27 de março de 2012

O fim...



Aprendi a duras penas uma lição óbvia: tudo que começa um dia acaba. Mas o que é o fim? Para muitos um poço sem fundo, um beco sem saída. Mas a possibilidade do fim não pode ser tomada como motivo de pânico ou a chegada do mesmo significar o fracasso de alguém que tentou...

Por ser inevitável, o fim nos dá o antídoto do medo que cerca sobre sua chegada. Vai acontecer e nada o que façamos ou deixamos de fazer vai impedi-lo. Assim não nos resta outra alternativa a não ser viver cada dia como se fosse o último, ou o primeiro...

Cresci ouvindo minha mãe dizer, ao voltar de um velório, que o defunto estava ótimo. Acho que isso alimentou o medo de meu fim ser em um dia triste. Decidi, portanto, sem saber o dia que vai acontecer, não correr riscos e ser feliz todos os dias. O fim me ensinou a buscar sempre a felicidade.

Muitas vezes o fim nos surpreende e atravessa nossa vida. O futuro parece ser desfeito, porém ele nem foi construído; sentimo-nos traídos, entretanto esquecemos que estava no script o final; a tristeza nos toma conta e, como a raposa de Exupery, ouvimos o fim dizer que se sabíamos que iríamos sofrer, por que começamos? O que o fim não sabe é que ele nos ensina, nos fortalece e a cada sua passagem modificamos a nossa maneira de ver o mundo, sempre com outros olhos. Ou seja, a cada final temos um novo mundo para explorar.

O fim é inevitável, porém a tristeza não. Um fruto que cai da árvore possui dentro de si sementes, logo são árvores em potencial, portanto o recomeçar só depende dele. O fim é libertador para quem descobre que ainda é possível voar...

Voe!!

sábado, 24 de março de 2012

Para nossa alegria...


O mundo anda muito chato!! A alegria alheia ou é motivo de chacota ou de crítica. Ser feliz em seu emprego, com sua profissão, com seus filhos, com seu casamento é coisa fora de moda. 


O mundo mudou e ficou pequenino do tamanho de uma tela de um celular. Qualquer lugar está à distância de um toque. E se a alegria das pessoas próximas incomoda, imagina daquelas que nos são desconhecidas. Ser feliz tornou-se um atentado social.


O mundo esqueceu que reconhecer a alegria do outro é o caminho para se encontrar sua própria alegria. Ver um aprendiz de pandeirista ficar feliz com seus primeiros ritmos é inflamar nossa vontade de encontrar também a realização em alguma atividade. 


A alegria é contagiosa para quem está ao alcance dela. Muitos se fecham, têm medo de serem felizes, porque a felicidade como todas as coisas no mundo é passageira. E o medo os faz atacarem a alegria e as pessoas tomadas por ela. Esqueceram ou desconhecem que mais vale um dia de alegria do que uma vida inteiro de medo do sofrimento.


Eu fiz uma escolha, sou um escravo da alegria. O cansaço muitas vezes pode apagar meu sorriso; os problemas quase sempre trazem tensão a minha face; a dor limita meus movimentos; porém nada atinge a alegria do meu coração. Nunca fechei a porta para ela, muitas vezes sofri por deixar entrar outros sentimentos; entretanto a porta nunca foi fechada e um dia ela chegou. Tomou posse de mim, me escravizou!


Para minha...
Para nossa...
Para toda alegria...


Sou escravo da alegria...


Tesouros...


Sempre gostei de livros de piratas ou qualquer outra obra que apresenta a busca de um tesouro. É fantástico seguir, com os personagens, cada pista até encontrar o objeto da busca. As dificuldades do caminho, os obstáculos, os perigos são recompensados por um baú cheio de riquezas. E é daí que sai minha reflexão, como foram reunidos os tesouros?


Não sou pirata, nem tão pouco um rei, mas também tenho o meu baú de coisas de valor incalculável. O meu tesouro foi construído por anos de experiência. Ele é impossível de ser roubado, pois o carrego sempre comigo. A memória é o seu baú e a cada dia ele se torna maior e mais valioso.


Sou um apanhador de lembranças. Se cometo saques para aumentar meu tesouros, esses são apenas o de observar, de sentir, de sorrir e chorar pelo outro. Faço minha sua ação e reação, pego e guardo tudo em meu baú. Quase tudo tem valor para fazer parte do meu tesouro. O sorriso de uma pessoa tem o mesmo valor de uma coroa de ouro; a lágrima de alguém é mais que um cetro de um rei; um abraço vale mais que um nobre manto; e palavras me renovam mais que o graal.


Não tenho carro, não tenho luxo ou menos dinheiro no banco, tudo por uma opção; naturalmente não sou um miserável da vida ou pela vida. Este é meu tesouro e é o que me faz rico. Você pode até não ver, entretanto meu tesouro não para de crescer...


Meu tesouro cresce sempre, todos os dias. e nunca vai parar. Em meu inevitável fim, como um faraó, levarei-o comigo. Não terei pirâmides, porém meu tesouro será enterrado comigo. Quem sabe de minha cova venha nascer um canteiro de girassóis...


Morro de amor e vivo por aí
Nenhum santo tem pena de mim
Sou agora um frágil cristal
Um pobre diabo
Que não sabe esquecer
Que não sabe esquecer


Sou um apanhador de lembranças... bem vindo ao meu tesouro!!


terça-feira, 20 de março de 2012

O jardineiro de estrelas



Quando criança, a viagem da Apolo 11 não saia da minha cabeça. O passear perto das estrelas era meu sonhos. E muitas vezes eu fiz esta viagem. Não na Apolo ou nos ônibus espaciais, essa viagem acontecia com um balanço quebrado e cobertor velho. E no espaço vaguei. Aprendi a sonhar. Mas o que são os sonhos? Sempre os encarei como sementes... Uma semente pode ser apenas uma semente ou pode ser uma grande possibilidade... É incrível ver tantas pessoas padecendo de fome de aventuras, tendo com elas sacas e mais sacas de sementes. O sonho, nossas sementes, precisa de cuidado e, mais importante, precisa ser plantado e espalhado para que possa brotar e dar frutos.


Dar frutos... que missão difícil! 


Plantar sonhos é correr o risco de enfrentar uma seca na crença de seu sucesso, das intemperes do destino, das saúvas da opressão e do saque do medo. Plantar sonhos é ao mesmo tempo um desafio e um privilégio. 


Timidamente percebemos os primeiros brotos: pessoas que compartilham o mesmo pensamento, que suspiram diante de suas ações e que resolvem acompanhá-lo na sementeira. Nem o sol do descrédito faz com que se desista plantar.


E os sonhos nascem... aquela semente agora se multiplica em frutos e em novas possibilidades de sementes e, futuramente, novos frutos. O ciclo depois de iniciado, não mais é possível parar... pois nada pode contra a força da colheita de sonhos coletivos.


Quem planta sonho, colhe felicidade...


Para meus estudantes, que são minha sementeira e melhor aposta em grandes e numerosos frutos! 


"Se não nos deixais sonhar, não os deixaremos dormir"



quarta-feira, 14 de março de 2012

O Vencedor...


Por mais incrível que possa parecer, hoje fui criticado por ser correto. "Você é certinho demais e isso me irrita às vezes", essas palavras veio de uma pessoa muito próxima e não chegam com a mesma intensidade de uma crítica de apenas um conhecido. Porém foi o suficiente para refletir: será que na contemporaneidade não há espaço para o justo e o correto?

Alguns indícios vou recolhendo no dia-a-dia. 

Sou incapaz de entrar em um coletivo antes das mulheres, é uma questão de respeito e de defesa da integridade alheia. Não uso o fator corporal para ganhar vantagens espaciais em um ônibus. Chego a me levantar para ceder um lugar. Porém, quase sempre, sou obrigado a me equilibrar com minha mochila e bolsa sem que uma alma faça a gentileza de carregá-las, inclusive as mulheres que deixei embarcar na minha frente. 

Outra coisa que não passa por minha cabeça é pensar que meu tempo tem mais valor e importância do que o dos outros. Respeito filas, ordem de chegada etc. Entretanto, algumas pessoas levam ao pé da letra a expressão que "tempo é dinheiro" e para não perderem o delas, faz com que eu perca o meu.

Uso o senso de justiça. Para aquele que fez bem feito, elogio; para aquele que não conseguiu, estimulo a buscar o acerto. Afinal, toda ação buscando o acerto já é, de origem, certa. E como é difícil ouvir um elogio, um reconhecimento... Por outro lado a crítica vem com o vento...

Assim eu nasci, assim eu cresci e espero assim morrer. Minha dignidade ou o meu caráter não tem preço. Embora gosta de Machado de Assis, não sigo a máxima de suas histórias, em que a vantagem social paga qualquer dano moral. Não aceito gaiola sou rédeas financeiras, sol um cavalo selvagens cavalgando em direção do horizonte. Posso estar em muitos lugares, mas pertenço apenas a mim mesmo.

A minha correção pode não me levar a vitórias ou a riquezas, entretanto me mantém em contato com minha essência. Como diz uma bela canção:

Eu que já não sou assim
Muito de ganhar
Junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
Só pra viver em paz


terça-feira, 13 de março de 2012

Aqui ninguém vai para o Céu...

Na mais bela metáfora grega, Cronos gerava e devorava os seus filhos, por medo de ser destronado. Assim é o tempo que gera a vida e a toma. Mas o trono do tempo ninguém tira... Zeus não está entre os homens. E diante da impossibilidade de destronar nosso pai tempo, buscamos outros tronos possíveis. Competir, impor-se e conquistar... Seria lindo em um texto sobre as cruzadas. Mas a reflexão é contemporânea.

Em uma terra de tantos desperdícios, nada mais o é do que o tempo. Gastamos tanto o nosso tempo que ficamos sem tempo para oferecer às pessoas. Assim deixamos de ser pais e não vemos nossos filhos crescerem; assim perdemos os nossos amigos, ficando com a dor; assim perdemos quem amamos e ao procurar encontramos a solidão.

Cronos não mais nos persegue, nós que vamos em rota de colisão com ele. Nossas buscas nos faz fortes e vamos a passos largos, pisando em que estiver no caminho. Nossa competitividade é quem devora os outro com medo da derrota. Somos os verdadeiros herdeiros do tempo. mas um dia encontraremos também nossa derrota diante do nosso Zeus.

De dentro do ônibus, no semáforo, sentimos como se pudêssemos parar o tempo. E, nesse instante, olhamos pela janela e vemos que o mundo está lá fora. No carro parado ao lado, no pedestre que atravessa correndo e no olhar exausto da vendedora de jornais. Ela corre contra o tempo e nós ignoramos o nosso. Ela limpa o suor da testa, respira fundo, bebe água e sorrir. E nós que procurávamos a salvação ou a perdição de um Zeus, ali ganhamos nosso gole de vida...

Não precisa morrer para ver Deus!




A alma encantadora de tudo


Uma vez em um livro, do magnífico Paulo Barreto, conhecido como joão do Rio, encantei-me pela ideia de um flâneur passear pelas ruas da cidade e enxergar(não vê) todas as coisas, valorizando o detalhe mais vão. 

O flâneur não está preso a rotina exaustiva do cotidiano, ele simplesmente flana... Ele se afasta do objeto para melhor observá-lo. Ele dialoga com a alma de tudo e de todos. Este estado de alheamento libertava a sua própria alma.

Esse distanciamento é capaz de conduzir a um estado de leveza tão grande que nos blinda contra a má vontade alheia, fazendo nosso olhar e nossos outros sentidos sintonizarem em coisas elevadas. Em vez de testas franzidas, passamos a observar sorrisos sinceros; no lugar de maldizer, escutamos gentilezas e agradecimentos. Se antes era um tapa, agora é um afago; e o que era odor, agora é o perfume da tranquilidade de que seu ego está contido e que ninguém é capaz de fazê-lo sair do seu caminho poeticamente descaminhado. 

Como diz Manoel de Barro, "sou um apanhador de desperdícios" e minha alma flâneur caminha por rostos, sorrisos e olhares, essas são as minhas ruas e as palavras de meu texto. As roseiras têm espinhos, mas ficamos admirando a rosa; a chama queima, mas admiramos o seu brilho... Assim são as pessoas, de muito perto podemos nos ferir ou nos queimar, porém não é motivo para não reconhecermos suas qualidades ou seu brilho. Isso é libertação, o resto é mágoa, medo e prisão.

Minha alma flana, por ruas, por olhos e sorrisos; pois há muito perdeu o medo do fogo e dos espinhos...




sexta-feira, 9 de março de 2012

Prosa: Livros...

Confesso, sou compulsivo quando se trata de livros. Sou ciumento, quero-os perto, tocá-lo, lê-los, cheirá-los. O cheiro de livro novo é um doce perfume em minhas narinas, o do livro velho também, se não fosse minha alergia. Os livros são as minhas crianças que querem sempre brincar comigo. Viajamos pelo mar, pelo espaço pela terra. Sou o rei, o detetive, o amante ou o assustado camponês diante de um vampiro. Cada um é meu passaporte para uma grande viagem.

Adquirir um livro é como um namoro. Primeiro é o contato visual. Depois a análise dos detalhes. O primeiro encontro. O encantamento das primeiras páginas e enfim a conquista. É, em relação ao amor, minha face mais promíscua. Tento dedicar-me a todos, emobora uns me prendam mais que outros. Todos ao seu tempo têm minha atenção, afinal sou um bom amante.

Nossa vida começa com um livro, o de registro de nascimento; passa por outros como os de registro de casamento; para terminar no de óbito. Fazemos também parte de um livro. Somos personagens de um autor chamado tempo. Quem me dera ter o poder de mostrar às pessoas a importância de uma boa leitura. Muito mais do que conhecimento, muito mais do que informações, é a possibilidade de se olhar no espelho e enxergar o que passa em sua alma. É a melhor forma de viver as mais variadas e impossíveis aventuras e de se eternizar nesta nossa vida dura.

Sou compulsivo com livros, como confessei, mas sinto também que eles são compulsivos comigo. Eu, meu mundo e minhas aventuras pertencemos a eles. Estou em cada página de meus livros.

Minha aluna Karol Martins enviou-me este vídeo, com a mais doce comparação que eu poderia receber... Quem me dera ser o Sr. Morris Lessmore...




Prosa: Herói...


Ser professor tem suas vantagens e coloco como a principal a possibilidade de, diante de um tema, enxergar a visão de mundo dos outros. Sou um homem de outro milênio, de outras décadas e já assisti as transformações do mundo e principalmente de mim mesmo. Apenas a necessidade de se ter um herói parece permanecer.

Não importa o tempo e nem a localização, o herói povoa o imaginário do ser humano em algum momento da vida. Meu primeiro grande herói foi meu avô. Sr. Miguel era caçador, tinha uma barbona branca e uma cara de bravo. Foi quem me ensinou a pescar, quem me levava ao Mineirão e quem ocupou uma lacuna deixada pela morte prematura de meu pai. Porém ela também se foi e em meus 10 anos fui encontrar outro herói, agora literário, Michel Ardan, protagonista da obra de Júlio Verne "Da Terra à Lua". Mas eu era menino...

Em sala de aula a resposta parece não conseguir sair, quando pergunto "Quem é o seu herói". Uma análise rápida nos leva a uma crise de valores. Em um mundo de coisas efêmeras o herói sucumbiu à inconstância de virtudes valorizadas e rejeitadas. Um rapaz que luta para defender um mendigo aparece na TV em uma cama de hospital, se recuperando, por cerca de dois minutos e falam de ato heroico, porém logo após mostram rapazes e moças deitados à beira da piscina falando besterias e também são chamados de heróis. Não há lógica que ajude.

O conceito se perdeu, mas meus olhos de flâneur ainda enxergam as grandes façanhas de pequenos heróis desconhecidos. Empurrando carrinhos de entulho, vendendo pipoca, lutando contra o sono para aprender aquela matéria, gastando seu corpo, sua mente e seu espírito em suas epopeias diárias.

Meu reality show eu assisto pela janela do ônibus, o paradão é diário, onde não existe escolha de líder ou anjo para ajudar, e cada herói, anônimo e exaurido, luta para sobreviver.

Agora, aproveite, dê uma espiadinha e tente me responder:

"Que tipo de herói é você?"


Prosa: Novos Horizontes...


Depois de grandes batalhas você se vê em alguns questionamentos. A batalha valeu a pena? O resultado valeu a pena? As respostas não conseguimos dar de imediato, sem cair no risco do calor das emoções. Mas uma coisa é certa, uma transformação ocorreu e o mundo, suas relações e seus parâmetros agora são analisados por outro filtro. Como disse Cazuza: "O meu futuro é duvidoso"... Por enquanto esperarei o nascer do dia e o início de uma nova jornada. 

O trecho da música (Engenheiros do Hawaii) que dedico a vocês serve de mantra para muitos momentos de minha vida:

Novos horizontes
Se não for isso, o que será?
Quem constrói a ponte
Não conhece o lado de lá
Quero explodir as grades
E voar
Não tenho pra onde ir
Mas não quero ficar
Suspender a queda livre
Libertar
O que não tem fim sempre acaba assim


Prosa: Sonhar...


Uma vez um menino entrou pela primeira vez em uma biblioteca e pegou emprestado um livro. A história era de uma viagem espacial para conquistar a lua. Ele não teve dúvida, não estava ali uma história para ser lida, mas uma vida para ser escolhida. O padrinho da escolha foi Júlio Verne e seu livro "Da terra à lua". 

O menino sonhou e em seu terreiro com um balanço e cobertas velhas fez seu foguete. O capacete era um saco de papel com abertura para os olhos. Os controles parte de uma vassoura e caixa de ovos virada com o fundo colorido com giz de cera. 

O jovem astronauta sonhou e voou. Foi mais longe que qualquer homem havia chegado. Conheceu países, planetas, galáxias e os limites ilimitados do universo. Não havia limite para sua Argos imaginária. 

O menino cresceu, o terreiro não existe mais, muito menos o antigo balanço. Nem tão pouco o menino conseguiu voar em uma espaçonave de verdade. Mas quem precisa de espaçonave quando se tem livros e imaginação? O homem de hoje é a nave do menino e o menino é o eterno sonho do homem. 

As estrelas continuam lá no céu, mas se você observar bem, toda noite o homem está lá em cima, com o combustível da imaginação, fazendo o menino mais uma vez passear no espaço...


Prosa: O nada...


É engraçado que quando estamos tristes ou amargurados é o nada que buscamos. Um estado de semi-esquecimento, anestésico e anulador. O nada, por mais paradoxalmente possa parecer, é o que procuramos para ocupar os espaços deixados, as chagas abertas que achamos não cicatrizar. E o nada aparece, nos preenche e por algum tempo recuperamos o equilíbrio e a caminhada.

Tudo, hoje em dia, tem desculpa,
tudo, hoje em dia, aborrece,
tudo, hoje em dia, machuca,
tudo, hoje em dia, irrita,
tudo, hoje em dia, pode matar.

Por isso persigo o nada, por estar cheio de tudo...

Pode ser que esta música diga tudo... ou, quem sabe, nada.


Prosa: Amor


Como tenho feito todas as noites, termino o dia com uma reflexão e me sinto levado a falar do amor. Podem ficar tranquilos, não falarei da Preciosa, deste amor não preciso falar, para este só preciso e devo agir.

Quero falar do amor de forma geral. Estamos preparados para amar? Não quero dizer "ficar", namorar, relacionar, fazer sexo ou similares. Digo amar no sentido mais altruísta que a palavra pede. Somos capazes de amar em sua condição de ser incondicional? Acredito que o homem(espécie) perdeu sua alma amorosa. No lugar de um coração amoroso foi colocado um cofre que se tenta proteger. Esquecemos que proteger nem sempre significa guardar, esconder, isso se faz com o que se tem posse. Amor é para usar, para gastar e descobrir que quanto mais se reparte, mais vai ter dele; porém se guardar pode perdê-lo para sempre. 

Não falo do amor de um casal, falo entre amigos, entre familiares, entre profissional e profissão e especialmente, entre você com você mesmo. Já sofri e a dor me ensinou minhas limitações para que pudesse superá-las, também já chorei e minhas lágrimas alimentaram a minha capacidade de senti e nunca menosprezar a dor alheia, como também já fiquei só, para aprender conviver comigo mesmo e poder ser melhor no convívio com o outro.

Vinícius de Moraes no "Soneto de Fidelidade" utiliza-se de uma metáfora maravilhosa nos tercetos finais: 

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

É onde eu percebo a mais profunda lição de fidelidade. O que adianta uma vela conservada, com a cera e pavio intactos por que não arriscamos a acendê-la. Será uma vela inteira guarda, porém desperdiçada. Mas aquela que foi acesa possui uma chama, que brilhará com o máximo de intensidade que pode, pois é assim o amor e, quando acabarem cera e pavio, sua mortal existência se eternizará pela lembrança de sua infinitude.

Digam as pessoas que amam como elas são importantes para vocês... Não deixe sua vela se apagar... Até amanhã...


Prosa: Como lidamos com nossos erros?


O senso comum nos avisa aos berros: ERRAR É HUMANO! Mas o problema é que a opressão do dia-a-dia nos rouba toda humanidade, estraçalha nossa auto-estima e nos condena a uma condição desumana. E, rebaixados, nossos erros são apontados, cobrados e condenados. Aquele, que agora o aponta, é humano e erra; você não.


Não enxergar a falibilidade de qualquer pessoa é ter medo de demonstrar a própria capacidade de falhar. Não se aprende com o acerto, passamos por cima, lucramos com ele; lição e aprendizado só vem com o erro. Um erro levou a descoberta do microondas e quantos outros erros foram necessários para a conquista do espaço? A Apolo que chegou à Lua foi a onze e não a primeira.


Erramos em nossas escolhas, erramos em nossas palavras, erramos em nossas decisões, mas sempre acertamos em não desistir e continuar. Muitos acertam e param, quem erra sempre continua. Não quero dizer que errar é o certo, mas que errar não é um crime.


Até Deus falhou. Não me condenes, não cometo sacrilégio. Se Ele fez o homem falível em sua origem, o erro foi Dele e não do homem. Talvez seja essa a grande lição que quis passar em Teu ato. Errar não é humano, errar é divino.